sexta-feira, 8 de maio de 2009

os olhos



os olhos

Domingos de Souza Nogueira Neto


Caminhando pela Avenida São João encontrei no chão um par de olhos, rasos, perdidos, cheios de mágoa. Como não vi o dono, coloquei-os no bolso e fui para casa.
Quando os saquei dos bolsos da velha calça jeans, ao chegar, estavam mareados, luzindo prazer e loucura, mirando os arredores, como felinos que preparassem o bote. Pensei, mas não tive coragem de jogá-los fora.
Mas afinal onde se guardam olhos? Na falta de resposta deixei-os em um prato sobre a mesa.
Misteriosos, ficaram ali, parados, fazendo-me pensar em janelas e mirantes.
Não me podia me afastar de pensar neles, turbulentos, profundos, mas confusos. Agudos penetréis da alma alheia, como são complexos os olhares perdidos.
Algo nos meus olhos brigava com aqueles olhos. Eles não se entendiam. E aquele sentimento do deslocado, do não lugar, começou a me tomar lenta_mente .
Dormi um sono intranquilo, em prece, para que eles - multiformes, caleidoscópios, e pórticos, da razão e desrazão - encontrassem logo a solução perdida, afinal, são olhos!
A luz da manhã, pela janela do dia sguinte, me disse o que fazer - nada como a luz para dizer aos olhos.
Fui a cozinha, e com uma colher de sopa, extraí, com cuidado, meus dois olhos, e encaixei os novos no lugar. Os antigos, que me olhavam aflitos, atirei pela janela. Alguém havia de encontrá-los e cuidar deles.





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Desenvolvimento sobre imagem in http://www.testriffic.com/


2 comentários:

  1. Engraçado, eu tive uma forte impressão de
    dejavu. Mais que isto, li e coemneti este poema. Estranho...

    Beijos.
    Estive aquisomente prá te ver por dentro

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