terça-feira, 13 de outubro de 2009

canalha...


canalha...
(*) domingos de souza nogueira neto

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Não se limitou a pensar isto, nem a falar ... ali estava, escrito e assinado: - É um canalha!
A perplexidade dos tolos me tomou por completo. Como assim um canalha? O havia acolhido, insistido em uma promoção improvável, nunca, em nenhum momento, havia dirigido a seu respeito uma palavra de desafeto, ou desconsideração, mas ali estava o texto. - canalha!
Não acredito em santos, nem em deuses, me perdoe quem não é assim, pensei então em Chico, Caetano, Jobim, Elis e Betânia, como lidar com isso? A pessoa que ajudara, sem querer nada em troca, pelo prazer de o ver feliz, escrevera canalha, sobre este velho, que não conseguia atinar sobre qualquer razão para ser carimbado desta forma. Os poetas haveriam de ter algo a dizer.
Todos sabiam (mas não eu), deste estigma, porque, por alguma razão misteriosa, ele me marcara e informara a todos.
Estava de licença, tirando horas havidas na casa, mas voltaria, sorriria para mim como uma fuinha hipócrita, e, em seu sorriso dissimulado eu leria: canalha!
Um soco, rápido e certeiro, tiraria aquele sorriso depravado (muitos e melhores poetas socaram por menos), mas ele cairia no chão rolando, como uma lesma gorda e choraria dizendo: - o canalha me bateu!
Deixarei então, perdoem-me os poetas, o vômito nos lábios da criatura sórdida, para que siga em frente, cuspindo sobre os que o ajudaram, não me cabe esquecer o que disse, nem quem era, mas tampouco posso me esquecer de quem sou, e não isto.
Este visco será então a sua marca, esta baba, os que olharem para os seus passos não verão pegadas, verão ranço. E aqueles que lhe estenderam a mão generosa, viverão com o asco do toque em desaviso.
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