Homenagem ao amigo
Júlio Goa de Almeida
Da eternidade para a eternidade
Júlio Goa de Almeida
Da eternidade para a eternidade
minemai
mymine
Eu não posso atestar a fidelidade deste poema, que chegou a mim de forma curiosa, no início da década de 1970, um velho amigo, especializado em literatura, me apresentou texto de poema, em dialeto notúmbrio, provavelmente do Séc. XIV, e que, segundo ele, era transcrição de fragmento manuscrito, encontrado solto, em pesquisa no monastério inglês de Lacock_Abbei (v. foto).
Não tive acesso ao original, apenas a compilação apresentada, que traduzimos rapidamente, em um dos antigos bares do edifício Maleta, em Belo Horizonte, bêbados e de madrugada, mas, apaixonados pela descoberta.
O fragmento tinha peculiaridades, eram dois sonetos superpostos, usando recurso que só viria a ser valorizado no concretismo, séculos depois, e, em dois estilos literários diferentes, algo do parnasiano e algo do barroco, para descrever duas visões do poeta acerca de uma única mulher.
Pouco depois meu amigo veio a falecer no trágico incêndio do Edifício Joelma, e eu, mergulhado em depressão, não tive a grandeza procurar seus familiares (nem sei se sobreviveram, nem saberia para quem ligar...), do texto original, nenhum vestígio.
Mas, recentemente, encontrei em meus guardados, dentro de um livro, do Ulisses, de Joyce, que sempre me chama a releitura, nosso fragmento bêbado, ainda com as marcas de nossa última aventura, em tradução apressada para o português, que é o que tenho.
Muito embora neste blog tenha prometido postar apenas textos meus, tenho a esperança que nesta imensa rede de detetives virtuais, venha a ser descoberta a resposta para o que nos faltou, por pouco tempo, pouca vida e muita cerveja... Que Apolo nos devolva o que Dionísio nos negou. E afinal, talvez se trate disto, a mesma mulher, um só homem, parte Febo, parte Baco. Vejam os poemas, lendo as colunas separadamente (e lembrem-se que no texto original tudo rimava, mas já não o tenho):
Não tive acesso ao original, apenas a compilação apresentada, que traduzimos rapidamente, em um dos antigos bares do edifício Maleta, em Belo Horizonte, bêbados e de madrugada, mas, apaixonados pela descoberta.
O fragmento tinha peculiaridades, eram dois sonetos superpostos, usando recurso que só viria a ser valorizado no concretismo, séculos depois, e, em dois estilos literários diferentes, algo do parnasiano e algo do barroco, para descrever duas visões do poeta acerca de uma única mulher.
Pouco depois meu amigo veio a falecer no trágico incêndio do Edifício Joelma, e eu, mergulhado em depressão, não tive a grandeza procurar seus familiares (nem sei se sobreviveram, nem saberia para quem ligar...), do texto original, nenhum vestígio.
Mas, recentemente, encontrei em meus guardados, dentro de um livro, do Ulisses, de Joyce, que sempre me chama a releitura, nosso fragmento bêbado, ainda com as marcas de nossa última aventura, em tradução apressada para o português, que é o que tenho.
Muito embora neste blog tenha prometido postar apenas textos meus, tenho a esperança que nesta imensa rede de detetives virtuais, venha a ser descoberta a resposta para o que nos faltou, por pouco tempo, pouca vida e muita cerveja... Que Apolo nos devolva o que Dionísio nos negou. E afinal, talvez se trate disto, a mesma mulher, um só homem, parte Febo, parte Baco. Vejam os poemas, lendo as colunas separadamente (e lembrem-se que no texto original tudo rimava, mas já não o tenho):
minemai
mymine
Árcade pétala da flor mais delicada,
Boas lembranças do seu corpo na alcova,
Nas águas a banhar tão belos pés,
Príncipe Galeotto me traz boa lembrança,
Sorriso branco de luz da alvorada,
De quatro moças que meu o corpo amava,
Porta d´alma que mostra quem tu és.
Prudência, Justiça, Fortaleza, Temperança
***
O nome Mai, náiade de Escamandro,
A peste negra, a morte triste velha praga,
Onde Heracles plantou a prima fonte,
Onde sugaram Fé, Esperança e Caridade
Por aonde vais dá nome ao meandro,
Mantiveram-te cativa desta minha ilharga,
Que alenta a sina de Orfeu, o viajante.
Para a qual busquei-te na mais tenra idade
***
Se o meu canto pudesse encontrar-te,
Padres freiras unem preces d’outros cantos
E atraí-la para amor, Vênus e Eros,
Para deuses helenos, Razão, Ira e Luxúria,
Consagraria aos deuses minha arte.
Cobrindo os mortos com o fogo em manto.
***
Minha lira tangeria aos deuses feros,
Enquanto correm para todo lugar os tontos,
E da alegria falaria em toda a parte,
Meu bem de nós não vem qualquer lamúria
Tocando apenas o prazer de amar-te.
Corpos que mexem, pois não somos santos.
***
FOTO: Monastério de Laccok Abbey
...fosse a Igreja talvez fossem versos apócrifos? Não importa. É um texto belíssimos e, confesso que ler meu 'codinome' neste poema me fez um imenso bem.
ResponderExcluir...Em certo sentido foi 'covardia' teres atraído-me para ler este registro poético, tecido por amigos em um momento onde os corações estão desabitados de quaisquer barreiras de proteção.
...A bebida desarma os poetas de suas defesas, sabe?
Para mim, o fato de o terem escrito em um bar não macula ou diminui, a importância e a beleza do que li agora.
...Mas eu juro, foi tão surpreendente o que li, que eu te digo, não sei comentar. Apenas sentir e isto que sinto é pura emoção, contentamento, surpresa, congelamento mental. Eu estou sem saber o que dizer.
Acho que faleci.
Grata pela oportunidade de ler tão belo texto. Grata pelo que me propiciaste sentir. Grata pelo privilégio de conhecer este homônimo que me fez sentir alguém tão amada.
É somente isto que eu consigo dizer.
e.t.se puderes, gostaria de guardar cópia desta texto.
Me fala se puderes?
Abraços,
Carinho,
Mai
Se o estado de puro encantamento é um privilégio reservado à criança, afirmo-te, estou.
ResponderExcluirTalvez eu assim esteja e assim me sinta, quando escrevo. Capacidade de ver independente do nervo ótico ou do cristalino? É possível. Mais que isto para mim, 'bole' por dentro algo visceral e isto é prazeroso e ao mesmo tempo, quase dói, sabe?
Para deste instante que descrevi, sinto encantamento quando leio algo que ecoa nas funas camadas do meu coração.
Aconteceu antes de ontem e agora, novamente, quando voltei para reler teu poema.
Indizível o que estou sentindo.
Puro encantamento, puro...
Mas não há preciosismo algum, por incrível que pareça, sou inocente quanto a isto.
Uso agulhas fura-ego.
Obrigada, Domingos.
Deixo-te meu carinho.
Estou pensando seriamente no que disseste em teus ultimos mails.
Diante do bem que ora sinto, agradecer é tudo e nada.
Eu sempre volto quando sinto o eco lá nas ultimas camadas das escavações do meu coração 'amador'...
ResponderExcluirE me demoro por aqui inteiramente fisgada como um peixe pulando com vida.
Muito, muito é o que sinto de tão imenso e leio e outra vez e novamente...
Não canso.
Grata,