quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

neverend - domingos de souza nogueira neto


neverend

domingos de souza nogueira neto

Não sei como iniciou a queda. Lembro-me apenas das paredes acelerando ao lado, vertiginosas. Distinguia as cores no início. Imagens, sombras, saliências, tufos? Verdes e castanhos acelerando, zumbidos...

Tudo se misturava depois. As cores em cinza, imagens em planos, paredes em lados e zunidos em ventania.

Preparei-me para o impacto. O estalido oco de ossos partidos. Para a dor de segundos, talvez menos. E depois?

Só o contínuo. As luzes se foram, o vento parecia riscos rápidos de gilete, o breu, o cilindro negro ao redor, e a angustia da queda no escuro dos pesadelos de criança. Talvez tivesse enlouquecido e rostos me olhassem atônitos.

No fim, nada, e nem fim. Já não havia vento, o arredor cintilava em branco, já não sentia a queda, apenas um ponto que então se apagou.

Então, o vazio, ou pleno, talvez, e como ínfimo yo-yo cósmico senti a hora de voltar às sombras, de acelerar de volta, rumo ao ponto, sem mais saber...