elogio à morte
domingos de souza nogueira neto
Destas crenças humanas, das quais me rio às vezes, a morte é talvez a mais fantástica. Insistimos na idéia do início, do fim e do meio, como se nossa própria experiência conduzisse a isto, de forma inexorável, medida por régua escolar.
Para atenuar nossos medos, criamos deuses - nós criadores de deuses - que preenchem os espaços de nossa incopreensão. Ícones do pânico diante das trevas.
Os animais, nossos ascendentes verdadeiros, nos deixaram esta herança, a paralização trêmula diante do abismo que não nos atrevemos a saltar.
A morte seria então o fim - se não houvessem os deuses - e é de se temer o desfecho - ninguém, de nós impíos, mostra terror frente a juízes implacáveis da coragem, da pureza, da nobreza, do amor incondicional. Mas, o nada, é terrível... não entendo.
Sendo sincero, o temor a deus é algo que me assusta, muito, porque sou pouco, pequeno demais diante desta idéia. Já o conceito do nada, do fim, é, mesmo, confortável, o descanso, enfim, o fim das culpas.
Mas, confesso, que minha crença em deus caminha, pari passu, com minha crença no fim.
A impressão que tenho (aterrorizadora, de fato), é de que a Lei de Lavoisier, radicalizada, proporciona, não só para massa, ou energia, mas para a própria cultura, história e vivência (individual inclusive), um permanente e constante estado de transformação, sem tréguas ou leis, para a infinita incerteza da existência.
Nesta linha, não haverá descanso, perdão ou alívio presumíveis, mas apenas caminhos sem fim. Eu gostaria de não acreditar nisso, estou cansado.
Excelente reflexão!
ResponderExcluirBeijos.